4 - Pecado – Pobreza




As sombras

Sobras na rua
quando a noite cai
num crepúsculo negro
procuras um qualquer
vão de escadas para leito
na madrugada fria.

Os filhos da noite,
visitas indesejadas,
sonhos embriagados
assomam-se os fantasmas
a cada esquina
desgastadas pelos dias
vividos sem eira nem beira.

Sofres no silêncio,
calado na tua fortaleza,
apenas afirmas um olhar
suplicando a bondade.

Enxotados como moscas,
escondidos entre os cartões,
sinais permanentes
duma existência sofrida.

A sua verdadeira história,
jamais ninguém contará,
por desconhecimento,
por vergonha,
por culpa de todos nós.

Outro dia desponta cedo,
com sede de ganância,
apagadas as luzes da noite,
desaparecem dissolvidos
na agitação da cidade.

Logo à noite,
as sombras da rua,
ocuparão os seus leitos
forrados a cartão.

Uma penumbra espessa
servirá de manto real
a esta realeza esquecida.
 
Campo, 1 de junho de 2018 – 01 h 20 m

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