Discurso direto

Discurso direto

Deixa lá, não ligues!
sabes que não serves
para a atualidade,
as tuas cãs denunciam-te
aos olhos dos outros.

Coitado, já não pode!
Ultrapassado é a palavra!
A palavra mais ouvida
nas costas largas
dos seus lamentos.

De à margem, a marginal…
Será, o passo certo?
Um canto espera a tua solidão.

Envelheço ao respirar
a sociedade, a estatística,
os números, as metas…
Sou a peça velha da engrenagem.

Tens que dar o lugar,
aos outros,
aos mais novos,
estás a ver cota!

Esqueço esse possível,
insulto gratuito,
recordo as cotas dos livros,
lidos, relidos e devorados.

Conversas fiadas, dirão uns,
realidades severas, dirão outros.

Foste descontinuado,
despedido de ser,
alguém útil neste vasto
universo resplandecente.

O planeta continua
a sua translação anual,
a mais ninguém interessa
a vida que escolhi…

Durmo a espaços,
a noite escura
segreda-me sonhos
a realizar em vida.

Voltar a conversar,
volta a semear,
voltar a colher,
voltar a cuidar,
voltar a amar…

Quem decide a minha utilidade sou eu!
Sigo grisalho o meu destino…

Zorb@ o Grego
Campo, 17h03m, 6 de abril de 2018

 

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