As Formigas

As Formigas

O carreiro incerto
traça a linha contínua
o seguidismo cego
tateando às cegas.

Uns seguidos aos outros
sem toques fúteis
serpenteamos ao acaso
seguindo líderes vendados.

A venda bem posta
num coletivo obediente
zurzido por conveniências
amestrados numa arena
sugados até ao tutano
pela máquina devoradora
alimentada a suores frios.

Cada peça imprescindível
rebitada às demais
impulsiona as inércias
as vontades amargas
de uma resistência viril
ao ditames impostos
pelo chicote imaginário.

Surge uma peça desobediente
uma voz desalinhada
nesta ensurdecedora ignominia...

-Eu hoje estou cansado...
Por isso paro
para aliviar as dobradiças,
os movimentos repetidos
prescrevo uma liberdade momentânea.

Sacudo o pó ressequido,
visto uma farda nua
sinto o silêncio,
um bichano roça
as pernas doridas
desta caminhada
infindável para o desprezo.

Acordo do pesadelo
os ruídos atordoam
de novo os ouvidos
voltámos ao formigueiro
o sono prescreve
o sonho vencido (...)

Fontelo, 8h52m de 27 de outubro de 2017
Zorb@ o Grego


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