Sinto

Sinto

Só sei que sinto
sinto muito, mas muito
a ausência disfarçada...

Revolta, não sinto
raiva,
fúria,
cólera,
só de acabar os dias
vazios de sentido.

Luto de mãos limpas
do nojo alheio
convicto que o caminho
pode ser aquele
ou aquele outro
mais à frente.

As pedras sinuosas e gastas
tropeçam aos pés
calejam as caminhadas
rebentam bolhas escarlates
de dor encolhida.

Para aguentar até à chegada
ajoelhar no lajedo
lacrimejar espontaneamente
eis a peregrinação sentida
e vivida na primeira pessoa.

A súplica de conforto imaculado
para si, com reflexos nos outros.
A mim nunca me faltou
a coragem de sentir...
Muito menos a certeza metafísica
de uma qualquer existência ausente.

Oliveira, 13 horas, 10 de maio de 2017
Zorb@ o Grego






Comentários

Visualizações