Sarcófago Esventrado

Sarcófago Esventrado

Saqueado o teu alimento
moído num qualquer moinho
mós sobrepostas em fricção
peneiras ao alto sacodem a farinha.

As gamelas polvilhadas
roladas as bolas de broa
aguardam pacientemente
ser manipuladas pelas mãos
de uma qualquer Brites.

O forno comunitário flameja
crepita a lenha no seu bojo
as paredes ruborescem de tempera
aos poucos o calor as caia de branco.

A pá do pão resiliente
introduz no ventre a ferro e fogo
o alimento da comunhão dos povos
pão ázimo, pão por Deus.

O odor a cozedura breve
sofregamente inalado
pelos olfatos ansiosos
levita os espíritos para um além.

Saboreado por uma gula serena
repartido por todas as mãos
numa fraternidade justa
resultado do trabalho de tanta gente.

Penamacor, 10h 47m, 30 de abril 2017
Zorb@ o Grego


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